Copa do Mundo deve aquecer prostituição na maioria das 12 sedes brasileiras do torneio
Muito se fala que a vinda de uma Copa do Mundo ao Brasil abre uma infinidade de oportunidades
para diversos setores, e obviamente a prostituição está inserida neste
cenário. Mas em um ramo em que é difícil fazer qualquer tipo de medição
precisa, só se consegue ter uma noção desse pico pontual com histórias
específicas, como a da professora de inglês Lilian Papandre.
A profissional de São Paulo acabou se especializando por acaso em
ensino do idioma a garotas de programa e hoje assiste a uma onda de
demanda, em razão da proximidade dos eventos da Fifa no país, com Copa
das Confederações e Mundial.
"Existe bastante procura, uma indica a outra. Muito por causa da Copa,
de todos esses eventos. Acho que vai crescer muito mais até 2014, até
passei alunas para outros professores de inglês. Até porque se ganha
mais com a garota de programa, se ganha mais com a hora dela, muito mais
do que em uma escola de inglês. Por isso outros professores até me
dizem: 'me arruma uma menina'", relata Lilian, que também atua em outros
dois empregos em escolas de São Paulo.
Segundo a professora, a expectativa de demanda para a Copa equivale à
semana de Fórmula 1, quando São Paulo recebe o maior contingente de
estrangeiros no ano. Mas a expectativa é de que o futebol traga um
período aquecido mais extenso.
A atuação da professora de inglês no nicho começou meio que
acidentalmente há seis anos. Em uma conversa trivial com uma vizinha de
prédio, na piscina do condomínio, Lilian encontrou sua primeira aluna
garota de programa.
"Comecei a dar aulas para ela. Mas às vezes ela me ligava e dizia para
eu esperar uns 20 minutos, porque estava com um cliente. Achei estranho.
Um dia ela falou: 'posso falar o que eu faço? Sou garota de programa de
luxo. Tem algum problema?'. Eu disse que não, e aí ela acabou me
apresentando várias", descreve a professora. "Teve épocas em que eu saia
de um flat e ia para outro", acrescenta.
Lilian Papandre já chegou a conduzir uma agenda semanal de aulas com 15
garotas de programa de São Paulo. Hoje, no entanto, ela diminuiu o
ritmo, em razão dos outros empregos.
A professora conta que as aulas são focadas em situações cotidianas no
diálogo de uma garota de programa com um cliente. As noções gramaticais
ficam em segundo plano, em detrimento da prática. São ensinados termos
específicos para negociação de cachê, para explicar, por exemplo, que
precisa tomar banho ou então técnicas para elogiar o estrangeiro.
Na atividade com as garotas, Lilian relata que já passou por
saia-justas, como receber telefonemas de madrugada para ajudar a aluna a
negociar um cachê com um estrangeiro. Certa vez, ao aplicar uma prova
na piscina do prédio de uma delas, foi confundida por um gringo, que
teve negado pela professora uma oferta de R$ 10 mil por um programa.
No fim das contas, as aulas de inglês podem ganhar
um clima de consultório de analista. Lilian conta que muitas vezes teve
que atuar para confortar as alunas de situações como agressões de
clientes e até mesmo ameaça de morte por parte do cafetão.
"Eu nunca incentivei elas para que continuassem nessa vida. Digo para elas aprenderem inglês quem sabe conseguirem um emprego
melhor, numa companhia que pague bem. Às vezes sou psicóloga mesmo.
Elas acabam se afeiçoando muito, até pela frieza que precisam lidar. São
pessoas com uma grande carência", afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário